Um concorrido painel do terceiro dia do Congresso da SET 2010, debateu as oportunidades e ameaças da TV Broadband, também chamada de TV Conectada. Aparelhos de televisão que possibilitam a conexão com a Internet e transformam o aparelho de TV em um display onde todo o conteúdo audiovisual, redes sociais e serviços, podem ser consumidos ou adquiridos pelo controle remoto.
Participaram do painel, dois fabricantes que já disponibilizam ao mercado brasileiro modelos de TV com conexão à Internet. A LG e a Sony estão acreditando que este nicho, ainda pequeno no Brasil, irá crescer seguindo a tendência em outros países onde a Banda Larga tem uma maior penetração na sociedade.
Para os radiodifusores, a TV Conectada pode representar tanto uma oportunidade, como uma ameaça, depende do modo como a tecnologia é compreendida pelas emissoras. O importante é salientar desde o início, que esta modalidade de distribuição de vídeo vem crescendo em todo mundo.
Entretanto, no caso do Brasil, há alguns elementos que devem ser considerados sobre esta tecnologia. Dentro dos parâmetros técnicos, basta que a Banda Larga brasileira chegue a uma maior parcela da sociedade e mais barata para que os conteúdos comecem a aparecer no display conectado. Há inclusive vantagens para as produtoras de conteúdo, inclusive as emissoras de TV aberta, de conhecer melhor o hábito de consumo dos espectadores de uma forma muita mais ampla do que as medições tradicionais (Ibope ou pesquisas de recepção).
Entretanto, do ponto de vista do modelo de negócios há questões importantes a serem observadas. Quanto ao uso da tecnologia no Brasil, ela segue uma tendência já observada na internet, o consumo Catch Up, ou seja, os usuários assistem a programas que foram exibidos na televisão aberta, ou por rever novamente, ou porque não conseguiu ver no horário em que foi exibido na grade de programação. Porém, os fabricantes estão realizando parcerias com portais de conteúdos e produtores de audiovisual para disponibilizarem produtos (Shows, filmes, Videoclipes, etc.) na TV Conectada, aumentando o conteúdo consumido neste tipo de platafoma.
O outro lado, no que diz respeito ao modelo de negócios, a TV Conectada está sendo um desafio para os radiodifusores, pois é um outro negócio no qual as emissoras de TV aberta não estão preparadas para competir. Durante os 50 anos de história da TV analógica, o modelo de negócios veio se estruturando por meio de erros e acertos e se consolidou nos números da audiência. Maior a audiência, maior o valor do comercial e maior o sucesso do programa. Acontece que na era da convergência, passamos da comunicação de massa para a comunicação de grupos. Cada grupo é tão singular que possui características próprias. É a comunicação em rede. Estar na rede não é apenas ter um site e disponibilizar conteúdo. Estar na rede é seguir a lógica deste tipo de comunicação. Castells, pesquisador espanhol, afirma que a rede é composta de vários nós, pontas de contato criadas por um fluxo constante de informação. Hoje não basta estar na internet. Empresas de comunicação devem estar em cada ponto, em cada nó da grande rede (Facebook, Twitter, etc), mas o mais importante, dinamizando o fluxo das informações. Disponibilizar o capítulo da novela é apenas uma parte deste fluxo. Se a emissora fizer apenas isso, uma outra plataforma de distribuição poderá distribuir este capítulo e o nó pelo qual a emissora X estava conectada se desintegrará. Castells também afirma que as redes podem se configurar e autoconfigurar quando os objetivos do grupo que fazem parte dessa rede se alteram. O “Cala boca Galvão”, é um bom exemplo dessa possibilidade que a comunicação em rede está ofertando ao indivíduo.
Assim, as possibilidades de negócio na TV Conectada estão deixando de ser aproveitadas pelas emissoras, pois na TV aberta, por lei, ela deve ser gratuita e suas opções de negócios são bem limitadas. Mas na Internet quase tudo é permitido. É possível vincular anúncios com as matérias jornalísticas, links patrocinados, etc, que não estão sendo utilizados pelas emissoras. O grande desafio para as emissoras de TV aberta no Brasil é compreender e aceitar o fato de que o privilégio da distribuição não é mais exclusivo a elas. Hoje existem mais distribuidores. Mas, existem pouquíssimas empresas que podem criar conteúdo como as emissoras de TV aberta no Brasil.
Mas parece que isto vem mudando. A onda da convergência é tão forte que está forçando as empresas de comunicação a rever suas estratégias e alguns sinais positivos já podem ser percebidos. Renata Abravanel, diretora de Novas Mídias do SBT, afirmou que a mudança de posicionamento da empresa no segmento não é apenas uma opção. "É uma questão de sobrevivência, temos que acompanhar a audiência e onde ela estiver nos também vamos estar", afirmou a diretora.
Este é um terreno ainda instável. Mudar a cultura de uma empresa não é tarefa fácil. Mas, como abordado em outra postagem neste mesmo blog, as empresas de comunicação são empresas como qualquer outra, sujeitas as mesmas condições de mercado (clique aqui para ler o post) e conseqüência dos erros nas decisões estratégicas. A viabilidade econômica das emissoras de TV aberta no Brasil passa antes de tudo por uma reavaliação da missão da empresa e de seu modelo de negócios. Há quem aposte na mudança, a quem aposte que nada vai mudar. Só o tempo dirá quem tem razão.
0 Comentários